@ThorCroix
@lemmy.eco.brHoje ou li uma pessoa falar sobre "exercer nossa habilidade em receber quando o mundo é deficiente em sua habilidade de entregar" . Que significa literalmente aprender a houvir, mas sem esperar obter algo determinadamente verdadeiro ou falso.
Informação se ganha de forma instantânea mas informação é apenas data, não é conhecimento. Conhecimento se ganha com o tempo, em que obtemos experiências e aprendizado para melhor entender as informações que temos e relações entre elas.
Nem todo mundo compartilha informação ou opinião com o objetivo de convencer todos que estejam ouvindo. As vezes a pessoa só que compartilhar um ponto de vista para tornar demais pessoas consciente do tal ponto de vista.
Quando a pessoa tem informação mas com a conciencia que tal informação é apenas o que ela sabe até então, e não uma verdade universal inquestionável, ela não está preocupada em fazer que todo mundo acredite nela. Ela está mais interessada em simplesmente em compartilhar uma perspectiva. E tal perspectiva não precisa ser comprovada inquestionavelmente verdadeira ou falsa no momento. O tempo, o ganho de novas informações, perspectivas e experiências de vida no futuro, irá provavelmente uma hora confirmar o quanto correto ou não é uma perspectiva ou informação.
Dias atrás eu postei uma informação que alguém contestou. Eu não estava querendo bater boca, eu simplesmente respomdi com links com informações a respeito do que eu havia dito para quem quisesse se informar. Mas eu fui cobrado de que se eu quisesse falar algo "controversal" eu teria que ser mais persuasivo. E eu não me importaria em tentar apresentar mais informações para quem quisesse saber mais e então formar suas opiniões. Mas eu não queria ter que ficar batendo boca com alguém dedicado a querer negar a informação.
Em outras palavras, eu não queria ter que ficar dando prova para alguém que estava decidido a negar elas. E nem convencer os demais que eu estava certo. Mas também eu não queria ser um entretenimento para as pessoas que preferem ler tretas e divergências na Internet no lugar de simplesmente se informar com os especialistas tratando a respeito no link que providenciei.
Além do mais, tem coisas que a gente simplesmente sabe, mas não sabe explicar ou não sabe ser convincente. E isso não deveria impedir ninguém em compartilhar um ponto de vista, desde que não esteja tentar forçar tal ponto de vista nos demais.
Hoje eu li algo semelhante. Em outra plataforma. Uma mulher disse que não existe pessoas más, mas somente más ações. Uma outra pessoa disse que não se importaria em ouvir o que ela tinha a dizer mas exigiu que ela fosse mais convincente. A mulher então explicou que ela não sabia ser mais convincente. Ela é religiosa e parte do ponto de vista religioso. Já eu não sou religioso. No entanto eu me interesso e leio bastante sobre psicologia, biologia comportacional, neurociência e sociologia. Eu acho que eu entendo um pouco o que ela disse por causa de tais interesses meus, mas eu também não sabia explicar.
No entanto ambas as partes foram maduras o suficiente para se respeitarem. Não ficarem competido sobre quem estava certo, ou exigindo provas. Eles entenderem que o que a mulher disse era uma perspectiva que contém um conhecimento mas que ela entendia de forma mais intuitiva e metafísica do que com evidências materiais e razões verbais.
Mas o que eu achei interessante é que ela estava falando sobre não haver pessoas más mas sim más ações. E a pessoa que disse estar disposta a ouvir entendeu que seria uma violência (uma má ação) em iniciar um confronto e atrito com alguém por causa de supostas verdades instantâneas.
Muitas das grandes verdades que transformaram o mundo vieram de intuições que as pessoas não sabiam como provar em suas épocas e techlonologias mas que foram provadas no futuro. Toda filosofia de Spinoza é em volta de um conhecimento intuitivo metafísico que centenas de anos depois a ciência biológica confirmou, chamando de Homeositasis. Como também Einstein, que primeiro fazia suas descobertas apenas usando a intuição de sua imaginação, para depois tentar confirmar com a matemática e mais tarde, quando possível, tentar comprovar com observações visuais no mundo material.
E a gente, ateus, podemos rir de religiosos mas muito dos ensinamentos que eles seguem, ditos serem de Jesus, tem muito a ver com o que a psicologia e biologia comportacional confirmam.
Um cara que era baladeiro na juventude se tornou evangélico e passou a ser professor bíblico em sua igreja. Eu uma vez perguntei a ele se ele se odiava pelo o que ele fez na juventude, já que agora ele era religioso condenando tais ações. Ele sabiamente respondeu "Eu me odiava naquela época, hoje eu não me odeio mais pq Jesus me fez me aceitar" . Ele usou uma linguagem religiosa e ele não sabia explicar pq ele estava correto, a não ser pq "Jesus ensinou". Mas o que ele disse é um conhecimento muito coerente para a psicologia.
Mas só foi possível para eu enxergar isso pq eu, como ateu, não tentei negar o que ele disse por ser coisa religiosa. Por outro lado também não aceitei como verdade absoluta por causa da minha infância católica. Eu simplesmente busquei entender a perspectiva dele, e após ter conhecimento dessa perspectiva eu pude pensar sobre ela em relação com demais coisas que aprendi sobre demais áreas, e vi tempo depois que o que ele disse foi exatamente o que a psicologia diz: "O ódio é uma frustração que a pessoa tem consigo mesma" e uma das maiores frustrações que temos hoje em dia é não nos sentirmos pertencidos. Quando alguém diz que foi salva por Jesus, ela está conscientemente ou não dizendo que a igreja aceitou ela por quem ela é e assim ela se sentiu amada, e então pertencida, deixando de se odiar (não estando mais frustrada consigo mesma).
Atenção é uma das coisas mais benevolentes que podemos dar às demais pessoas. E saber ouvir sem negar ou exigir provas, mas simplesmente ouvir e aceitar a pessoa por quem ela é, nos estamos deixado de praticar a agressão que tornam tantas pessoas frustradas na Internet; o ambiente que chamamos de tóxico.
Em um mundo que é deficiente em sua habilidade de entregar é importante exercer nossa habilidade em receber. Vamos proteger uns aos outros de nossas más ações.
Márcio Faustino Santos.
A velocidade de um filme de cinema é de 25 fotogramas por segundo. Sabe Deus quantos fotogramas por segundo passam na nossa perceção quotidiana.
Mas é como se, nos breves momentos de que estou a falar, de repente e desconcertantemente víssemos entre dois fotogramas. Deparamo-nos com uma parte do visível que não estava destinada a nós. Talvez estivesse destinada aos pássaros noturnos, às renas, aos furões, às enguias, às baleias.
A nossa ordem visível habitual não é a única: coexiste com outras ordens. As histórias de fadas, de duendes, de ogres, foram uma tentativa humana de se conformar com essa coexistência. Os caçadores estão continuamente conscientes dessa coexistência e, por isso, podem ler os sinais que descobrem o hábito dos interstícios se esconderem por detrás de coisas diferentes, que não vemos.
As crianças sentem-no intuitivamente, pq elas tem o hábito de se esconderem atrás das coisas e observar. Lá elas descobrem os intercítios das diferentes palhetas do visível.
Os cães, com as suas pernas que correm, os seus narizes apurados e a sua memória desenvolvida para os sons, são os especialistas naturais desses interstícios. Os seus olhos, cuja mensagem nos confunde muitas vezes por ser urgente e muda, estão sintonizados tanto com a ordem humana como com outras ordens visíveis.
John Berger.
Se formos considerar o fator tempo, uma unidade territorial autogerida existiu no Brasil e durou quase 100 anos, se chamou Quilombo dos Palmares.
Se considerarmos o fator impacto global, temos a Revolução Haitiana que as consequências foram a luta abolicionista no globo, deixando rastros também para as revoluções anticoloniais.
Nesse caso, temos a Revolução Mexicana, onde a pauta da Reforma Agrária atinge movimentos e lutas até os dias de hoje.
Se considerarmos modelos de socialização de propriedade, podemos citar a Revolução Espanhola, onde comitês das cidades e dos campos se uniam para construir uma economia autogerida.
Mas o marxista ortodoxo por algum motivo só considera a Revolução Russa como sucesso. É uma leitura equivocada do ponto de vista histórico, e tem um vício ideológico que ignora a luta e cosmovisão de outros povos, inclusive dos seus próprios países. Como se o modelo e a experiência fosse se repetir exatamente aqui. Um planetário de erros, diria Thompson.
(Kauan Willian)
https://twitter.com/kakobelmont/status/1602796884631887872?t=lcliojH6pelw9K4Dq_LfGg&s=19
Mas eles não levam em consideração que a Revolução Russa tenha sido a primeira com teor marxista, enquanto as outras, maravilhosas, importantes e tudo mais, não eram marxistas? (Bryan)
Eu acho que a confusão é exatamente essa, falar que se não é marxista não foi Revolução. Pera aí, Marx falava do avanço das Revoluções Burguesas, e Lenin das Revoluções de Libertação Nacional. Não é pq não é marxista que não tem relevância revolucionária (Kauan Willian)
Vivemos o nosso quotidiano numa troca constante com os fenómenos diários que nos rodeiam - que muitas vezes são muito familiares, outras vezes são inesperados e novos, mas em todo caso essas trocas confirmam sempre a nos mesmos na nossa vida. Mesmo quando são ameaçadores: a visão de uma casa em chamas ou de um homem que se aproxima de nós com uma faca entre os dentes, continua a nos lembrar (com força) a nossa vida, a sua vida e o seu significado. O que vemos habitualmente sempre nos confirma.
– da obra The Shape of a Pocket por John Berger.
E não seria a vida essa constante auto confirmação?
Eu tava querendo postar uma coisa filosófica aqui, foi procurar o grupo e... cadê?
...Falar sobre a questão de organização e não organização é ridículo; esta questão nunca esteve em disputa entre anarquistas sérios, exceto talvez para aqueles individualistas solitários cuja ideologia está mais enraizada em uma variante extrema do liberalismo clássico.
Sim, os anarquistas acreditam na organização – na organização nacional e na organização internacional.
A organização anarquista variou de grupos soltos e altamente descentralizados a movimentos de vanguarda de muitos milhares, como a FAI espanhola, que funcionou de maneira altamente coordenada.
O que diferentes tipos de organizações anarquistas têm em comum é que elas são desenvolvidas organicamente de baixo para cima, não projetadas para existir de cima.
Inegavelmente surgem problemas que só podem ser resolvidos por comitês, por coordenação e por uma alta medida de autodisciplina. (...)
Nenhum anarquista sério discordará do argumento (...) sobre a necessidade de eliminar a estrutura imperialista através de grupos organizados."
BOOKCHIN, Murray. Anarquismo e Organização, 1969.
https://twitter.com/profartcast/status/1597804345252352000?t=g_f6bQuNCLWkSmz-4Xy9zg&s=19
Como muitas outras comunidades Michoacán, Cherán sofreu com o crime organizado, subornos políticos e a polícia corrupta. Sequestros, extorsão, assassinatos e abate ilegal da floresta local - o sangue vital da comunidade - faziam parte da vida diária local. O Los Angeles Times fornece o pano de fundo da revolta de 2011:
Esse foi o ano em que os residentes, na sua maioria indígenas e pobres, empreenderam uma insurreição e declararam autodeterminação na esperança de se livrarem dos males que afligem tanto o México: violência desenfreada, políticos corruptos, um sistema judicial desdentado e bandos que se expandiram do contrabando de drogas para a extorsão, rapto e abate ilegal de árvores.
"Para nos defendermos", explicou um líder comunitário, "tivemos de mudar todo o sistema - fora com os partidos políticos, fora com a Câmara Municipal, fora com a polícia e tudo. Tivemos de organizar o nosso próprio modo de vida para sobreviver". Assim, a 15 de Abril de 2011, um grupo de mulheres e homens que utilizavam pedras e fogo de artifício atacou um autocarro cheio de madeireiros ilegais associados ao cartel de droga mexicano, La Familia Michoacana, e armados com metralhadoras. Os vigilantes assumiram o controlo da cidade, expulsaram a força policial e os políticos e bloquearam estradas que conduziam à floresta de carvalhos numa montanha próxima que tinha sido sujeita ao abate ilegal de árvores por bandos armados apoiados por funcionários corruptos.
O policiamento comunitário foi alargado a vinte mil habitantes e a mais de 27.000 hectares de terras comunitárias. Os membros da vigilância dos bairros patrulham tanto a cidade como as florestas circundantes.
A Constituição do México permite o autogoverno e o autopoliciamento pelas comunidades indígenas. Após longas batalhas legais, o governo mexicano está a tratar Cherán autónomo como uma comunidade indígena autónoma.
"Na forma única de governo de Cherán, o verdadeiro poder está totalmente nas mãos do povo. Não há uma única decisão tomada sem consenso, desde quem vai conseguir um emprego local na construção, até à atribuição de serviços públicos e à supervisão da despesa do orçamento. A autoridade da assembleia da comunidade está acima de qualquer outro órgão governamental local"[2].
A comunidade elege um Conselho de 12 pessoas, "K'eri Jánaskakua", e tem cerca de 180 fogatas (Roda de fogueiras onde fazem os encontros) nos seus quatro bairros.
O Terceiro Conselho (Conselho de Anciãos, Conselho Superior, Conselho Municipal, Conselho de Keris) foi nomeado em 2018. Outros órgãos representativos incluem um conselho de jovens, um conselho de mulheres, conselhos de bairro, e um conselho de território comunal centrado no desenvolvimento empresarial.
A cidade proibiu os partidos políticos e as campanhas políticas.
Segundo o Guardian, a versão de Cherán da democracia directa forneceu "uma solução simples para a compra de votos e o patrocínio que atormentam a democracia mexicana". A democracia directa, segundo um activista da comunidade, não só salvou a floresta, como trouxe a paz: Cherán em 2017 teve a mais baixa taxa de homicídios em todo o estado de Michoacán e talvez mesmo em todo o país do México.
Algo que não é mencionado o suficiente nas discussões sobre a ascensão de Hitler ao poder, é que antes dos nazistas já teve um golpe proto-fascista na Alemanha em 1920, conhecido como o Kapp Putsch. Entretanto, ele foi derrotado pela classe trabalhadora organizada.
Lembrando que o SPD foi o maior partido da classe trabalhadora em toda a Europa e várias revoluções estavam acontecendo na Alemanha. Por isso mesmo fascistas começaram a surgir e se organizar.
O golpe de Kapp Putsch foi apoiado por oficiais militares e capitalistas, e continha elementos nacionalistas e monarquistas. Seu objetivo era uma ditadura militar feita para esmagar o poder dos trabalhadores (o governo do SPD). Muitos de seus participantes se juntariam mais tarde ao partido nazista.
O golpe derrubou o governo do SPD, forçando os líderes governamentais social-democratas (SPD) a fugir. Mas em resposta, os trabalhadores de toda a Alemanha, de todos os partidos de esquerda, entraram em greve geral, unindo-se para acabar com a ditadura.
10 milhões de trabalhadores (social-democratas, social-democratas independentes e comunistas) entraram em greve, congelando a economia. Nada se moveu. Os líderes golpistas se tornaram impotentes, incapazes de fazer uma única coisa. Em 3 dias, eles foram forçados a se render.
Resgatados pela classe trabalhadora, os líderes do governo do SPD retornaram a Berlim e recuperaram os poderes do governo. No entanto, em seguida, fizeram concessões com os líderes do golpe, recusando-se a prendê-los, e até mesmo prometendo-lhes anistia.
Apesar de inicialmente ter sido um partido revolucionario/radical, o SPD deixou seu radicalismo após obter o governo. Sabotando inúmeras outras revoluções da classe trabalhadora na Alemanha, inclusive a República Socialista da Bavária.
Enquanto comunistas como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht haviam sido assassinados sob ordens do SPD por tentativa de liderar uma revolta operária em 1919, os líderes de um golpe de extrema-direita foram tratados quase como amigos, e anistiados pelo SPD.
Em alguns lugares, os trabalhadores decidiram continuar a greve e radicalizar suas reivindicações, principalmente na região industrial do Ruhr, foram elementos revolucionários que continuaram a greve, formaram milícias de trabalhadores e fizeram reivindicações socialistas.
Em resposta, o governo do SPD utilizou as unidades militares de extrema-direita, muito dos mesmos que os derrubaram em um golpe de Estado alguns dias antes, a fim de esmagar brutalmente os trabalhadores.
Mesmo que muitos dos trabalhadores mortos no processo fossem membros do SPD, a liderança do SPD estava mais disposta a ficar do lado dos reacionários que os desprezavam, do que dos trabalhadores revolucionários pertencentes ao seu próprio partido. Mais de 1.000 rebeldes foram mortos no Ruhr.
Um dos soldados que levavam a cabo a repressão escreveu um relato devastadoramente brutal.
Agora estou finalmente com minha empresa. Ontem de manhã cheguei à minha empresa e às 13h fizemos o primeiro assalto. Se eu fosse escrever tudo, você diria que são mentiras. Nenhuma misericórdia é mostrada. Nós atiramos até mesmo nos feridos. O entusiasmo é maravilhoso, quase incrível. Nosso batalhão tem mortos vermelhos 200 a 300. Qualquer um que cai em nossas mãos recebe primeiro a coronha da arma e depois a bala. Durante toda a ação, pensei na estação A. Isso se deve ao fato de que também matamos instantaneamente dez enfermeiras de traição, cada uma delas carregando uma pistola. Disparamos com alegria contra essas abominações, e como eles choraram e suplicaram! Nada feito! Quem quer que seja encontrado carregando armas é nosso inimigo e é feito". Membro da Epp Brigade.
Na sequência, o apoio dos trabalhadores ao SPD caiu drasticamente, e as divisões já existentes entre os trabalhadores se aprofundaram drasticamente. Devido a hostilidades partidárias, os trabalhadores alemães nunca mais seriam capazes de atingir este nível de ação unificada, mesmo quando mais necessário.
Fonte: @PhilosophyCuck (twitter).
Se isto lhe interessa, ele está atualmente no processo de fazer uma série de vídeos sobre a revolução alemã. Neste momento, o plano é cobrir o Kapp Putsch na parte 4.
Recomendação de leitura: Os livros mais centrais são:
Adicionalmente, "All Power to the Councils!" de Gabriel Kuhn que narra como testemunha de dos eventos. Como também "Revolutionary Berlin: A Walking Guide".
E por último, a biografia de Rosa Luxemburg por Netti.
"O preconceito patrimonial com que padres, moralistas, legisladores e políticos têm lutado ao longo dos tempos, para imbuir as pessoas desde o berço, vive sobre aqueles que sofrem suas conseqüências assassinas. Em greves, por exemplo, muitas vezes nos deparamos com homens vigorosos que atiram ou matam chefes e capatazes; vimos, por exemplo em Montceau-les-Mines, na França (1884), dezenas de trabalhadores desarmados sendo presos por terem atirado bombas nas casas de engenheiros e administradores; e vemos, como temos visto na Bélgica, multidões de mineiros rebeldes manipulando os burgueses, incendiando as minas, e durante dias tendo apropriado grandes distritos, incluindo cidades ricas - mas nunca vimos tais grevistas confiscando bens e casas, nem provando que eles entenderam que os chefes são inúteis sanguessugas, assim como tudo o que foi criado por eles [trabalhadores] lhes pertence.
O tipo de homem trabalhador que desafia o patrão e usa uma faca para retribuir o longo martírio, que inflige a seus escravos assalariados, não é tão raro. Mas é muito, muito raro aquele que se desentende com os pertences do patrão, com a consciência calma e contente de quem sabe que está apenas exercendo seus direitos.
Impelido pela necessidade, o homem trabalhador carrega o que pode, mas o faz com vergonha, na crença de que está fazendo mal; e o que deveria ser um ato de revolta, em busca de reivindicações, continua sendo um roubo comum que degrada o caráter e a dignidade de alguém. Este negócio de propriedade é um dos maiores preconceitos e temos que dobrar todos os nossos esforços para destruí-lo.
O povo deve ter em mente que a revolução que se aproxima será a revolução dos desgraçados, dos famintos e que, sempre que possível, deve ter uma antecipação de seus benefícios. Nisso reside o sucesso da revolução, a garantia do futuro, a salvação da humanidade."
— Malatesta, parte do texto "Propaganda by Deeds" escrito na década de 1890's